19 de dezembro de 2012

Elogio do esquecimento

O mundo de dentro não tem cronologia: foge à ordem do tempo, salta estações e a temperatura é a da memória dispersa por factos e emoções vividos longe e perto. Naquele dia era Natal e muitas vezes o soube com angústia e outras o esqueceu sem remorso. E antes assim!

21 de novembro de 2011

Disforia hodierna

Vão-se esgotando
Forças
E fontes
Voz,
Sopro de pedir.
Vão escorrendo:
Palavras surdas.
Tardam as manhãs,
A esperança de outrora.
Vai-se toldando o mundo.
Raros os dias.



8 de novembro de 2011

A galinha não apetecida
Um escrito de 1908

Talvez injusta, certamente contundente, a visão de Unamuno –  admirado por Miguel Torga, que, em parte, a ele foi buscar pseudónimo – sobre Portugal, a índole e o estado, em 1908, com uma atualidade que nos faz temer ser, afinal, o imobilismo paralisante, passe a redundância, o nosso verdadeiro e fatal problema.
Leitura recomendada.

16 de outubro de 2011

Renovação

Outono, finalmente!... E as árvores preparam, uma vez mais, a irrepetível, gloriosa e colorida festa da despedida.


Cambridge, 30 de outubro de 2010



14 de outubro de 2011

Condição humana

«É a fraqueza do homem que o torna sociável; são as nossas misérias comuns que inclinam os nossos corações à humanidade; se não fôssemos homens, nada deveríamos. O apego é sempre sinal de insuficiência: se cada um de nós não tivesse necessidade alguma dos restantes, nem sequer pensaria em unir-se com eles. Assim é da nossa própria carência que nasce a nossa frágil ventura. Um ser verdadeiramente feliz é um ser solitário: só Deus goza de uma felicidade absoluta; mas quem de entre nós tem ideia do que seja semelhante coisa? Se alguém, sendo um ser imperfeito, pudesse bastar-se a si próprio, de que gozaria, segundo o que nos parece? Estaria só, seria infeliz. Não concebo que quem não tem necessidade de nada possa amar alguma coisa: e não concebo que quem nada ame possa ser feliz» (Jean-Jacques Rousseau, Emílio).

Savater, Fernando (1998). Ética para um Jovem. Lisboa: Editorial Presença, 69





13 de outubro de 2011



Há dez anos, sobretudo sábado, sobretudo começo, sobretudo esperança, sobretudo manhã, sobre tudo.


10 de outubro de 2011

Secura...

Leituras de "Organização e Gestão da Informação" (formação oblige) e a sensação de uma asfixiante travessia, que me fez recordar o sacrifício destes velhos amigos e o lamento, pungente, do capitão Haddock: le pays de la soif... le pays de la soif...! Logo ele, que  tanto gosta d'un bon verre! :) Num intervalo da "saga", este sorriso.




9 de outubro de 2011

Só ela vale a pena!

O Zé fez anos, sete ou oito! E todo o dia por este prédio, escada abaixo, escada acima, jardim, garagem, passeio em frente, foi uma correria alegre de gargalhadas e gritos e cantigas e aplausos e ideias pra brincadeiras e estouros de balões e chocalhares de brinquedos e saltos e quedas e pequenos dramas de resolução quase instantânea e de novo risos: uma festa, uma festa, um contágio de vida! Parabéns, Zé! Viva a infância!


8 de outubro de 2011

Limites?

Junto dados. Uno pontas de testemunhos ouvidos, de experiências partilhadas, de apenas notícias, como a de hoje, reportando a não desistência de um piloto de rally, acidentado e paraplégico, que continua nas corridas. Atrás, vem a recordação recente daquela impressionante conferência a que assisti, sobre tecnologias adaptadas, e os inúmeros exemplos de fantásticas superações de limites inconcebíveis, impostos por injustiça divina, por azares da existência… E da enorme força e coragem que os ditos deficientes demonstram, do muito de que são capazes e da felicidade que daí retiram, emerge uma verdade irrefutável, que me ensina: a única verdadeira deficiência é a da vontade!


7 de outubro de 2011

Elegia

Ainda sabemos cantar,
só a nossa voz é que mudou:
somos agora mais lentos,
mais amargos,
e um novo gesto é igual ao que passou.

Eugénio de Andrade, Poesia em Verso e Prosa



Se  fossem ambos vivos e se tivessem continuado juntos até hoje, os meus pais completariam, nesta data, 50 anos de casados! Da geração deles, muitos são os que dão esta prova de resistência: casava-se cedo e, pelas mais variadas razões, as relações perduravam, sustentadas, por vezes, em tortuosos esquemas de equilíbrio, que, no entanto, "funcionavam". 
Por um número talvez idêntico de razões variadas, na minha geração a prova torna-se frequentemente insuperável e aqueles que vierem a conseguir um resultado assim tornar-se-ão, seguramente, casos para estudo.
E os nossos filhos?...


3 de outubro de 2011

Natureza

"É sabido que o ser humano tem a capacidade de mergulhar inteiramente num assunto, por mais insignificante que tal assunto pareça. E é sabido que não existe assunto insignificante que, ao ser concentrada nele toda a atenção, não cresça até ao infinito."

In Tolstoi, L., Guerra e Paz, vol. 4, Lisboa, Editorial Presença, 2005, p. 321



30 de setembro de 2011

Avaliação de m*

Passados os grãos pela peneira que me enfiaram em mãos, ficaram três gordas surpresas para o mais fino pão, dez de qualidade superior e uma quantidade substancialmente maior de cereal corrente.
Os resultados não couberam no quadro subjetivo de justiça com que esboço o meu contexto profissional. Uns incharam de fermentação, outros encolheram defensivamente e houve mesmo quem endurecesse e se fizesse arremesso.
O sabor da arbitrariedade não serve a este pão e, perdido de todo o apetite, peço é que me deixem sacudir de vez esta farinha e regressar ao meu ofício!

29 de setembro de 2011

O


está em nós...


Fotografia tirada em junho de 2010, no Centro de Arte Contemporânea Graça Morais

28 de setembro de 2011

A(c)to

Sem c ainda não o pratiquei: o ato.
Não sei que falta fará o elemento omisso que não contabilizei na lista dos essenciais ingredientes da prática e do prazer dela.
Não esqueci a voz, a pele e as mãos… estas, não tanto pelo formato ou grandeza, mas pela capacidade de agarrar com uma firmeza suave e impositiva, sem fuga nem apelo. A pele pela dupla capacidade de se fazer lençol e coberta. A voz porque, sussurrada, encanta como a flauta famosa… e que me desculpem a rudeza da imagem!
No a(c)to é de bom tom que tudo se levante, que nada caia… Por isso, na prática dele, que não na sua escrita, estarei, tanto quanto/quando puder, em desacordo ortográfico!

27 de setembro de 2011

Em busca da APC
De como a virtualidade pode transformar-se em falta realmente sentida


Que título! Longo e explicativo, como os escritos barrocos dos estudos de outro tempo...
Mas o assunto não me faz rir, antes me inquieta.
O facto é que a APC, autora do blogue «Camuflagens», atravessou, a uma distância virtual, uma pequena e importante parte da minha vida. Os seus comentários sobre algumas coisas que escrevi ancoraram-se, muitas vezes, na inteligente análise do real e na sensibilidade de quem tem uma humanidade verdadeira e apurada. Trocámos sentidos emails e chegou a agendar-se, sem data, o café que tomaríamos lá para os lados do Marquês, quando eu concedesse ultrapassar os montes deste reduto nordestino onde sou eu, para o periódico banho civilizacional na capital.
Nunca ocorreu. E de há uns meses para cá, só silêncio. Despercebido primeiro; curioso em seguida; inquietante depois, quando todos os ecos perscrutados emudeceram…
Que será feito da APC, essa especialíssima presença distante de um tempo?! Nem publicações, nem respostas, nem testemunhos de amigos…

Onde está a APC?
Quem se recordar com gosto das BD «Onde está o Wally?», desculpará que a imagine na profusão da mancha desenhada numa página de interrogação, bem disfarçada, entre os livros, os utilizadores cosmopolitas e as transparências vítreas da biblioteca de Alexandria, onde sei que gostaria de se perder, ou se encontrar…
APC: nós, continuamos aqui!
Até...?




26 de setembro de 2011

22:22

Não sei quando pela primeira vez me ocorreu, nem se desde então, sempre, a imagem se impôs à informação.
Há dias de pressa, de cegueira, de atropelo da tranquila prática de pensamentos, associações ou atos só meus, com que pontuo a existência banal que me coube. E admito que a atenção passe adiante.
Mas muitas vezes é hora dos cisnes!
Se protagonizasse romances fantásticos, reconheceria que os visores me atraem, com frequência excecional, para plasmarem diante dos meus olhos o movimento lento e alinhado daqueles dois pares de seres elegantes, rumando sincronizadamente à esquerda.
Dura um minuto, a hora dos cisnes.
Sei-o mesmo que o olhar não acompanhe o preciso momento em que o quarto elemento se junta ao conjunto para a pequena viagem.
Mas não é raro que o movimento suave desse vogar leve consigo a imaginação e que a hora dos cisnes seja apenas um começo.